Resoluções de Ano Novo

Muito tempo atrás, escrevi um texto sobre resoluções de ano novo. Já que isso nunca sai de moda, resolvi reeditar. Vai que, né?

Então, já que é no início do ano que a gente estabelece tudo aquilo que há de se cumprir nos próximos 365 dias, o melhor é deixar por escrito numa lista, né. É o que vale, segundo dizem.

Por isso, decidi que 2023 vai ser o ano em que finalmente meu livro vai sair do computador e ganhar as prateleiras. Decidi que ele vai ser um best-seller instantâneo, por ser mais visionário do que qualquer obra do Orwell, mais envolvente do que qualquer coisa do García Márquez, mais espirituoso do que tudo do Suassuna. Esse livro vai fazer um Jabuti vir correndo pra minha mão, garantir um Pulitzer e, também, o primeiro Nobel do nosso país.

(Durante minha entrevista pra falar do livro lá no “The Tonight Show”, do Jimmy Fallon, vou dar um jeito de responder: “Hemingway? Don’t know her.”)

Sempre fui péssimo em matemática, mas decidi que, mesmo assim, vou ganhar a medalha Fields. E que meus avanços nesse campo vão fazer as pessoas se perguntarem o que é que havia de tão genial assim no John Nash, afinal. Ah, e que meu discurso também vai ser mais bonito do que aquele no final de “Uma Mente Brilhante”.

Também decidi que vou ficar fisicamente igual ao Jason Momoa. Ou ao Chris Hermsworth. Se precisar de uma cirurgiazinha rápida pra chegar lá - coisa pouca -, sem problemas.

Em termos de fortuna, vou bater Bernard Arnault, ou Elon Musk ou __________ (espaço reservado para o nome da nova pessoa mais rica do mundo, já que essa dança das cadeiras não para). E, com esse dinheiro todo, vou comprar um passatempo menos complicado do que o Twitter.

Decidi que os desenhos que faço (se é que dá pra chamar assim) vão ser descobertos por alguém tipo Andy Warhol, que vão virar must desse jeito tão do nada que essas coisas viram must, e que os museus mundo afora vão tirar das paredes seus Liechtensteins e Bochs pra dar lugar a eles.

Decidi provar que Stephen Hawking não sabia de nada, apresentando toda uma nova teoria sobre buracos negros e tal. E decidi que vou provar cada uma delas. Decidi pensar sobre a vida, o universo e tudo mais de um jeito tão profundo que faria Platão querer entrar naquela sua caverna e nunca mais sair de lá.

Decidi que, com tudo isso acontecendo, Francis Kéré vai pedir pra desenhar uma casa pra mim, só pra não ficar de fora do hype.

Decidi que algum vídeo perdido que fiz, ou teste ou sei lá, vai ser visto pelo Tarantino, que vai me convidar pra estrelar uma nova franquia; e que vai ser de tanto sucesso que ele vai resolver não parar de filmar depois dos únicos 10 filmes que prometeu pra própria carreira.

(Desnecessário dizer que também decidi ganhar o Globo de Ouro, BAFTA, Oscar e tudo o mais, né? Até o Tony, que nem pro cinema é, mas que vai abrir exceção.)

Ah, como publicitário que sou, é claro que a campanha de lançamento do filme também vai ser minha, e ela vai ganhar Clio, Cannes, Festival de Londres, de Nova Iorque e mais todos esses prêmios novos que inventam todo ano, que é pra ninguém ficar sem o seu.

Decidi que vou namorar a garota dos meus sonhos, e que o amor dela por mim também vai ser verdadeiro.

Decidi que vou encontrar a cura para a Aids, o câncer e qualquer outra doença. Que vou encontrar a solução para acabar com a fome em escala global, e que meu discurso na ONU vai estabelecer a paz mundial, encerrando desavenças entre judeus e palestinos, entre gregos e troianos, entre fanboys da DC e da Marvel, entre Porchat e Gkay.

Decidi que vou descobrir qual é a pergunta cuja resposta é “42”.

Decidi que vou começar um negócio inovador, numa área nunca antes explorada. (Se você não faz ideia do que estou falando, é sinal de que estou no caminho certo.)

Enfim, decidi que vou conseguir aquilo que ainda nem sei que vou tentar.

Então olha… não sei quais são as resoluções que você fez, mas eu diria que ser meu amigo pode ser uma grande ideia, hein?

Feliz Ano Novo.