( aperte o alt ) "Néctico" • Edição Nº30
Néctico
E agora, o que vem?
As eternas promessas de nunca mais passar por isso, o eterno engano de não se deixar abater, a eterna mentira que grita, descrente, que é melhor assim, na tentativa inútil de fingir não querer que tudo fosse diferente.
Agora vêm as noites turbulentas, vem algum alívio mal interpretado e a falsa satisfação por não precisar perguntar se tudo bem uma outra idéia. Vêm os dias seguidos de horas que não passam e de propósitos que não se firmam, vêm momentos que não encontram eco porque não são divididos, vem a certeza de que o futuro mudou completamente, de que tudo aquilo que poderia vir a ser, num estalar de dedos, desapareceu por entre palavras, vento e poeira.
Chega o instante em que a volta não tem razão, em que ideias perdem-se em si mesmas, em que vitórias e derrotas parecem não ter diferença: à noite, sobre o colchão, já não importa para quantos ou para quem ou por que mostrou-se tão hábil, tão inteligente ou tão nobre.
E agora, o que vem?
A mesma estrada, aquela trilhada desde que o tempo é tempo, o mesmo caminho desgastado, árido, que caleja pés e espíritos.
E agora, há que continuar: ainda que não se encontre direção, pessoa ou razão.