( aperte o alt ) - “Latência” • Edição Nº23
Latência
Voltara, então, para o lugar de sempre, e já não se via onde estivera, já não se reconhecia nas palavras que ouvia, ou nos sorrisos das pessoas, ou em sua companhia.
Pensava em noites passadas, em outros céus e outros ares, outros perfumes e outras cores, e no quanto pareciam tão presentes e tão distantes; tinha em mente as coisas simples, os pequenos prazeres, a imensa lacuna deixada por algo sem nome, cuja falta, agora, precisava sentir.
Perdia-se no meio das conversas que nada diziam e escondia-se atrás do sorriso ensaiado e das palavras fáceis, ansiando por momentos para si: neles, ainda que sem entender-se, ao menos não precisava explicar-se.
Procurava, por entre fotos e memórias, umas tantas partes de si, mas as sabia deixadas pelo caminho, espalhadas mundo afora, entregues àqueles que jamais veria novamente - e talvez fosse melhor assim.
Sonhava com o dia em que seguiria de novo, fosse por onde fosse, em busca de cada uma delas, na esperança de nunca as encontrar.
Pelo caminho, espalharia outras mais.
•••