( aperte o alt ) "Evigilare" • Edição Nº39
Evigilare
Não era que se conformasse, longe disso; mas há tempos via como as coisas estavam, há tempos tentava promover mudança, e há tempos apenas se frustrava.
Não foi por falta de empenho: fez-se incansável, argumentou, mostrou um tanto de razões; mas já não encontrava, nos outros, qualquer disposição para entender o que lhe parecia tão claro. Por isso, permaneciam como sempre foram, sem imaginar que era preciso mudar e, mais do que isso, sentindo-se afrontados por essa insinuação.
Ele, insistente, continuava em pé sobre a pedra branca e fria, naquela galeria tão alta que não se podia ver o teto, construída há tanto tempo que os nomes dos seus arquitetos ficaram para além do alcance da memória. À sua frente, os Doze: seus olhares, frios e eternos, fulminavam o homem de cabeça baixa à sua frente.
Mas o que ele, o homem, não sabia, é que os Doze já há muito não detinham a força de outrora, o fulgor que exibiam em tempos imemoriais, ou até mesmo o querer, saber e realizar que fizeram florescer e desaparecer civilizações das quais, hoje, ninguém nem sequer ouviu falar. Representados ali em pedra, coberta por limo, tempo e reverência, mantinham ainda, porém, a imponência que dominava o frio, o tamanho e a idade do lugar.
A súplica pairava no ar, incerta do caminho a seguir.
Naquele dia, no entanto, algo aconteceu: como uma explosão silenciosa, como se o ventre da terra se movesse, como a erupção de um vulcão pensado extinto; fora ouvido, pensou o sacerdote.
Ainda não era sinal de mudança; mas, ao menos, havia esperança.