( aperte o alt ) “18h” • Edição Nº26
18h
Sim, é claro, também acho isso o máximo.
Mas, olha, não dá, né? Tenho aqui meus filhos, e meu emprego, e meu papel social, e meus amigos e meus parentes e meus colegas e minhas reuniões do clube e meus contracheques e meu chefe que me diz que sou um executivo modelo e as pessoas da empresa que me vêem como exemplo e há meu dry martini que me coloca pra dormir porque eu acho o máximo beber o mesmo que Sean Connery bebia quando era 007: shaken, not stirred.
Pessoas incríveis, nossa, abençoadas, elas sempre encontram quem ajude, graças a Deus, não sei como fazem. Mas essa vida não é pra mim, não é para as três refeições quentes que faço por dia e nem para roupas da moda e nem para os filmes na cinemateca (aliás, estreou o Ari Aster?) e conhecer o restaurante badalado e opinar sobre a nova safra daquele Pinot que, no final, não era grande coisa: mas apóio demais quem leva essa vida porque, uau, são pessoas diferentes e eu faço o que posso, mas assim, dar dinheiro acho complicado, é difícil, já ajudo gente pra caramba, faço diferença com minha vida do jeito que consigo, porque falo sempre das desigualdades sociais e já até conversei com o prefeito, que achou ótimas ideias e vai ver o que faz, e discuto a força do proletariado e meu respeito a toda luta enquanto espero que me sirvam outra taça desse Grand Cru Paul Hobbs que tem um aroma de cereja Morello absolutamente incrível.
Aliás, viu aquela história que coisa horrível, morreram acho que sessenta pessoas, nossa, tenho um amigo que mora lá e que falou que foram mais que sessenta, pra você ver como são as coisas porque eu acho que são bem mesmo como ele me falou naquele email que mal teve tempo de mandar porque a luz estava pra ser cortada, mas caramba, que coisa, não falo com ele há um tempão, esqueci de responder, mas tenho certeza de que está bem, eu ajudo o cara sempre, mas não com dinheiro, dinheiro é complicado, né.
Dá pra fazer o creme de papaya com sorvete de creme light?